quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

Passada a crise volta-se ao bom senso.

Durante o mês de janeiro, iniciando no dia 13 do mês comecei a escrever alguns textos tentando mostrar o quão natural eram os eventos de deslizamento de terra que estavam ocorrendo em Teresópolis e em Nova Friburgo, um  exemplo dessa minha preocupação pode ser visto no post http://engenheiro.blogspot.com/2011/01/deslizamento-e-mud-flow-i-comecando-por.html.

Como estava no meio da comoção, de forma oportunista vários sites “ecológicos” procuravam usar a comoção pública para atrair a suas teses sem comprovação científica. Para tanto chamaram os seus especialistas em climatologia e geologia (padres, teólogos, militantes das mais diversas formações) para que estes escrevessem artigos mostrando quão o aquecimento global causava de mal a todos os habitantes deste nosso planeta.

Um ex-padre convocado por estes sites (acho que a formação teológica e filosófica dá uma ampla base para climatologia!) prontamente escreveu algo em que ele dizia mais ou menos “o aquecimento global aumentou a incidência de chuvas nesta região e por isto os homens estão sofrendo as conseqüências” (era escrito de forma bem mais elegante, mas como não vou citar o nome nem o site vou escrever de qualquer forma. Isto tudo era afirmado sem dados sem nada só para aproveitar a desgraça de todos e chamar a simpatia para suas causas. Talvez o mesmo tenha recebido os dados direto de São Pedro!

Capa do Jornal do Brasil de 24 de janeiro de 1967, antes de ser contabilizado todos os mortos e feridos.
Depois de muito baterem no aquecimento global antropogênico, na ocupação de encostas de grande declividade e no desmatamento, já em 14 de janeiro foi publicado um artigo que mostrava claramente que o evento deste ano foi de pequeno porte quando comparado com os ocorridos em 1967 (Serra das Araras e Caraguatatuba), este artigo na época quase passou desapercebido só tendo maior divulgação no fim de janeiro e início de fevereiro quando foi replicado por diversos Blogs.


Outra página de um jornal, mostrando fotos dos efeitos dos deslizamentos nas estradas.
Para fechar a associação de malfeitores a grande imprensa, também caindo no sensacionalismo, "esqueceu" o que tinha publicado no passado e falava como os eventos fossem mera novidade e o pior acidente ecológico no Brasil de toda a sua história (culpando os políticos e os administradores pela incapacidade e todos pelo aquecimento global).

Foto de jornal mostrando ônibus atingido pelo deslizamento.


Como ficou a Serra das Araras depois das chuvas de 1967.

Para concluir e mostrar que este tipo de acidente é natural e característico da região, sugiro um excelente trabalho apresentado pelo Professor Luiz Bressani da UFRGS, no Workshop Geológico-Geotécnico das Catástrofes naturais de Santa Catarina em 14 de abril de 2009, que getilmente foi-me permitido publicar suas imagens que vou reproduzir só uma.

Escorregamento em um morro coberto de mata de Porte em Gaspar - Santa Catarina.
Nesta foto fica claro que mesmo numa mata que não sofreu nenhuma alteração pode ocorrer deslizamentos independente da ação do homem.



sábado, 22 de janeiro de 2022

O desastre do mês (03/2011).


Sempre dentro do espírito de levar mais intranqüilidade aos tranqüilos lares  mostrando brigas domésticas não são nada perante a desgraceira que a natureza pode nos ofertar, vamos ao nosso desastre do mês.

Como poderemos ver na figura a seguir editada pelo U.S. Geological Survey (Traduzindo: Serviço Geológico dos Estados Unidos) representando a posição dos terremotos em toda a Terra durante uma semana, vê-se que a principal ocorrência se dá no chamado círculo de fogo, que circula o pacífico.
Figura do USGS - http://earthquake.usgs.gov/earthquakes/recenteqsww/
Porém se olharem com cuidado à esquerda e embaixo da figura, nas chamadas ilhas Sanduíche do Sul acorreu um terremoto de intensidade 5,2 na escala Richter. Terremotos desta escala são considerados moderados e ocorrem uns 800 por ano, logo nada que nos preocupe.
Desenho da posição dos terremotos nas ilhas Sanduíche do Sul http://neic.usgs.gov/neis/bulletin/neic_b0001ql7_l.html 
Agora para tirar o sossego de muitos, uma região que ocorre terremotos nesta e em escalas maiores, por exemplo em 2 de janeiro de 2006 ocorreu nesta região um terremoto na escala 7,4, que já é um terremoto grande com grandes efeitos. Tanto o da semana como o de 2006 foram terremotos profundos 10km o de 2006 e 76km o da semana passada, não geraram tsunamis, porém nada impede que aconteça um terremoto superficial de grande intensidade e com isto teríamos a geração de um Tsunami que rapidamente chegaria as nossas costas. Como o nosso sistema de alarme simplesmente não existe, vou dar uma dica, se vocês estiverem na beira da praia e virem o mas se afastando rapidamente deixando uns duzentos ou mais metros a descoberto, não procure a sua sandália ou a carteira embaixo do guarda sol, corram.


Histórico dos terremotos ocorridos nas ilhas Sanduíche do Sul a partir de 1900.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia. Ao Brasil da Uberização de 2019.



O historiador João José Reis há pouco tempo um livro, que ainda não li, mas que já gostei, sobre o título de “Ganhadores: A greve negra de 1857 na Bahia.” Onde ele relata a primeira greve do Brasil que se tem conhecimento até os dias de hoje. O próprio autor chama atenção que diferentemente de outros pequenos movimentos grevistas, que ocorreram anteriormente, o movimento dos chamados “Ganhadores”, que eram pessoas que trabalhavam sem a imposição de um feitor, que existiam nas fazendas, pagavam por semana um dado valor ao seu proprietário, podendo ficar com o excedente do seu trabalho e na maior das vezes se mantinham (alimentos e roupas) por conta própria.

É interessante tanto a caracterização do tipo de trabalho, um passo intermediário entre o escravo que não recebia nada por seu trabalho, para um escravo que retirada uma mais valia incrivelmente alta, ele recebia uma parte como um proletário normal. Estes escravos Ganhadores, exerciam diversas atividades, desde o simples transporte de cargas, até atividade de profissionais, como pedreiros, marceneiros e até mecânicos, sendo que em Salvador a maior parte era de carregadores de pessoas em cadeiras, subindo e descendo as ladeiras da cidade (o preço era mais ou menos estipulado pelo trajeto).

Porém o mais interessante de tudo, foi o motivo e a forma que estes escravos escolheram para protestar, não fugindo para quilombos nem em revoltas organizadas como a mais conhecida Revolta dos Malês, ocorrida quase meio século antes da greve.

Também é interessante fazer uma relação entre estes escravos de ganho, os Ganhadores, e os atuais entregadores de refeições de bicicleta que embora estes últimos não sejam de propriedade de ninguém, a forma de exploração se aproxima muito, ou seja, ganhos extremamente baixos e um trabalho exaustivo de subir e descer ladeiras com bicicletas com cargas pesadas nas costas. Também os Ganhadores, muito deles possuíam suas próprias ferramentas, não moravam com seus proprietários e pagavam grande parte do valor de seu trabalho para os proprietários.

Podemos dizer que 167 anos depois da greve dos Ganhadores, as condições de trabalho se aproximam rapidamente, com as políticas neoliberais, mostrando que os nossos Ganhadores do século XIX, os primeiros brasileiros que executaram uma greve bem sucedida, historicamente as milhares de movimentos operários que a sucederam, resultaram em ganhos que se mostram efêmeros, pois enquanto houver escravos ou proletários e proprietários dos meios de produção, no caso dos 

Ganhadores os próprios corpos dos escravos, todo e qualquer movimento para garantir melhores condições de trabalho poderão retroceder conforme as necessidades dos proprietários.

A comparação entre os escravos de ganho e os atuais trabalhadores uberizados é inclusive achada procedente pelo autor desta excelente obra que mostra a história das classes dominadas e não histórias de reis e rainhas e grandes generais ou proprietários.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Pequenas recomendações sobre a educação nas redes sociais.



No século passado, antes da existência das chamadas redes sociais, as pessoas eram muito mais sociabilizadas do que atualmente, a impessoalidade e também o aparente anonimato criou uma forma de comportamento que se dissociou do que se chamava boa educação nos séculos passados, como já tenho bem mais de meio século de existência me permito a transmitir algo que a vida me ensinou.
.
Dizer que no passado as pessoas eram mais bem-educadas é um erro, porém os mecanismos de contensão social agiam reprimindo diretamente os mais mal-educados. Por exemplo, se alguém era completamente estúpido com os outros, mais cedo ou mais tarde ele levava um tapa na cara, uma reprimenda direta de um superior ou mesmo uma surra (quando não levava um tiro ou uma facada).Mesmo quem era simplesmente grosso e não seguia as normas de conduta sofriam reprimendas, ironias ou somente caras fechadas, que para pessoas normais servia como alerta.
.
Muitos utilizam eufemismos do tipo: “Mimimi” ou “sou contra o politicamente correto”, para simplesmente esconder a sua "falta de educação" ou "distúrbios sérios de comportamento". Para o segundo tipo de comportamento sugiro que as pessoas procurem um tratamento psiquiátrico, então ficarei restrito às pessoas normais que simplesmente perderam um pouco do senso de ética e a educação pelo uso intensivo das redes sociais.

Nos dias de hoje, as redes sociais servem como uma verdadeira máscara ou mesmo uma aparente couraça de proteção a atos antissociais. Quantas pessoas de má índole utilizam as redes sociais diretamente ou até indiretamente para desfazerem laços afetivos sem precisar dizer diretamente às suas “paixões” que desistem da relação. Na verdade, neste caso quem sairá em vantagem são aqueles que recebem o distrato impessoal, pois quem utiliza meios impessoais para romper laços amorosos não deveria ter quem os amassem.

Mas como não sou conselheiro sentimental, volto logo ao objetivo central do texto, o uso das redes sociais de forma indevida para quem não teve uma educação formal clássica ou teve progenitores que simplesmente eram também inábeis e mal-educados (vide a “famiglia” Bolsonaro).

Eu, desde a mais tenra idade, fui ensinado por minha avó, um anjo de criatura, que jamais deveríamos apontar o dedo para qualquer passante nas ruas que tivesse alguma diferença de comportamento, status social, complexão física ou qualquer outro tipo minoria. Este tipo de comportamento fui educado mesmo antes de ser alfabetizado. Ou seja, antes da década de sessenta do século passado já sabia que isto era má educação. Importante notar que neste tempo não existia nem a expressão “politicamente correto”, mas sim de boa educação.

Mais tarde apreendi que éramos responsáveis por nossos atos, ou seja, como não existia a chance do anonimato, todos nós éramos diretamente responsáveis por palavras, posições políticas e sociais que defendíamos individualmente ou mesmo em nome de coletivos que eram nominados, os fenômenos de contas fantasmas nas redes e mentiras propagadas via replicação de escritos por anônimos. Por este motivo sugiro que todos, quando possível, ao emitir uma opinião qualquer utilize o seu nome e sobrenome, coisa que faço regularmente quando escrevo ou falo via Internet.

Mas há outras recomendações que apreendi com o tempo, que passo aqueles que querem manter a sua imagem pelo menos limpa na rede. Sofrer o contraditório por pessoas que se põe contra a nossas opiniões e que se manifestam no mesmo nível, com educação e sem anonimato, devem ser consideradas e refutadas, ou até confessado imediatamente o seu erro, pois o erro é algo da natureza humana.

Um pouco de educação formal não faz mal a ninguém, em discussões cara a cara, geralmente as pessoas se cumprimentam e dão uma noção de quem é o seu interlocutor, quando acontece algo semelhante nas redes sociais, geralmente por preguiça, ninguém cumprimenta ou se apresenta, entra solando sem a mínima introdução.

Sempre ao propor um debate de opiniões, faça da forma mais honesta possível, não escondendo suas posições ou tentando vender gato por lebre.

Ao interromper temporariamente uma discussão, dê uma pequena explicação porque tem que abandonar a discussão e se despeça educadamente, a despedida pode ser até um pequeno “tchau”, mas não saia sem dizer nada.

Outra coisa que aprendi nas redes fazendo um debate franco e educado com pessoas que estão em posição completamente opostas as nossas, que a capacidade de mudar a opinião, se os argumentos forem honestos é muito maior do que se pensa.

Há uma peculiaridade que poucos se dão conta, há pessoas honestas que refutam nossas opiniões e por serem mais toscas, apelam em parte para desaforos e até insultos. Estas pessoas por formação tem a necessidade do uso de uma linguagem mais agressiva, não deixe barato, faça uma longa argumentação correta e educada e no fim desta reaja com a mesma violência que do seu interlocutor ou até um pouco mais, que terás uma surpresa, na maioria dos casos ele vai abrir mão dos desaforos e entrar num debate civilizado. Estas pessoas que argumentam e junto com a argumentação intercalam desaforos querem alguém que debata com eles e não se submeta a intimidação. Importante, desenvolva o seu raciocínio sempre no início e deixe os desaforos para o fim, nunca inverta a ordem.

Quando for discutir sobre um assunto que não tenha domínio absoluto, comece a discussão simplesmente deixando claro a sua posição de falta de expertise no assunto, pois é mais fácil aparentar menos no início do que mostrar que não sabes durante o debate.

Poderia seguir em algumas recomendações sobre debates civilizados nas redes sociais, só vou dizer algo, nunca debata contra frases toscas que são postadas nas redes, que a chance de estar respondendo para um robô são muito grandes.

Obrigado pela atenção.

domingo, 20 de outubro de 2019

Se Sérgio Porto ainda tivesse vivo, ele pediria parte dos salários dos altos signatários da República.


Sérgio Porto (1923 — 1968), conhecido pelo pseudônimo de “Stanislaw Ponte Preta”, foi um cronista, escritor, humorista, radialista, teatrólogo e compositor, que além de possuir uma cultura excelente tinha um senso de humor fantástico e refinado.
.
Ele fazia crônicas ácidas que criticavam a moralidade da sua época e quando foi necessário a ditadura militar, faleceu precocemente aos 45 anos e a sua última frase que proferiu no seu leito de morte para a pessoa que o estava cuidando mostra exatamente quem foi Sérgio Porto “Tunica, estou apagando. Vira o rosto prá lá que não quero ver mulher chorando perto de mim.
.
Ele era um profissional fantástico conhecido tanto por suas crônicas, mas também por suas frases, como: “Imbecil não tem tédio” ou “Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato” como centenas de outras.
.
Sérgio Porto escreveu três livros exatamente sobre aqueles que ele criticava, chamado: “FeBeAPá – Festival da Besteira que Assola o País”, onde há uma coleção de besteiras que foram colecionadas por Sérgio Porto, tais como esta: “Policiais da Dops e elementos do Exército invadiam a casa da escritora Jurema Finamour e carregavam diversos objetos, inclusive um liquidificador. Vejam que perigosa agente inimiga esta, que tinha um liquidificador escondido dentro de sua própria casa.” Só para quem não sabe Dops era o Departamento de Ordem Política e Social do Brasil, a polícia política, onde qualquer coisa que provocasse estranheza dos policiais e outros agentes públicos, militares, por exemplo, era coisa de comunista.
.
Pois a morte poupou Sérgio Porto de uma velhice mais prolongada (teria 96 anos) e também de ver parte de seu humor seria indevidamente usurpado pelos altos cargos da República, pois simplesmente as piadas já saem prontas das bocas e ações daquele que ocupa o cargo de presidente e seus diletos primeiro e demais escalões.
.
Até a morte de Sérgio Porto, as piadas eram produzidas em sua maioria por prefeitos, vereadores, deputados e poucas por ministros e presidentes. Isto ocorreria principalmente porque nos cargos mais elevados, existiam pulhas com mais cultura e com senso de ridículo. Jamais teríamos um ridículo ministro da educação que faria uma grotesca imitação do famosíssimo Gene Kelly, um dos mais respeitados atores e dançarinos do cinema mundial cantando e dançando a canção “Singin' in the Rain” que deu o nome a um musical clássico de Hollywood. Também as performances da Ministra Damares, os surtos do Ministro Guedes e o besteirol do nosso Ministro das Relações Exteriores além das frases e mensagens escatológicas daquele que ocupa a cadeira da presidência (não vou falar do haviam do ministro da educação, pois caio frequentemente neste erro horrível e roto não deve falar de descosido).
.
Isto tudo causaria um sério problema para Sérgio Porto, pois as imagens, as falas e os escritos destes personagens, por si só já são uma piada pronta, não necessitando nada mais do que as colocar em evidência.